"Hoje DIA INTERNACIONAL DO MEIO AMBIENTE" Temos o que realmente comemorar?

Cerrado de Minas perdeu área igual a 27 BH’s No Dia Mundial do Meio Ambiente



Levantamento mostra que Minas Gerais perdeu, em seis anos, área equivalente a 27 BHs de seu principal bioma, berço de importantes nascentes




Minas Gerais tem pouco a comemorar no Dia Mundial do Meio Ambiente. Depois de se destacar perante todo o país numa posição vergonhosa, ao ser anunciado como o estado com a maior devastação de mata atlântica no período de 2008 a maio deste ano, segundo dados da Fundação S.O.S. Mata Atlântica, enfrenta outra dura realidade. O desmatamento do cerrado avança e, por isso, é preciso encarar os desafios para evitar a extinção do ecossistema mais significativo das terras mineiras. Num período de seis anos, entre 2002 e 2008, foram perdidos 8.927 quilômetros quadrados de mata nativa – 2,7% da área original, o equivalente a 27 cidades do tamanho de Belo Horizonte. Com esse golpe, que tem reflexos até mesmo na biodiversidade do Rio São Francisco, restam agora 44,8% do bioma. Os dados são do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e foram obtidos por meio de um acompanhamento de imagens de satélites.



Os números são ainda mais desoladores em nível nacional. No prazo de seis anos, foram destruídos mais 7% do cerrado em todo o país. Até 2002, o Brasil havia perdido 42% da vegetação original, índice que pulou para 49%, em 2008. A diferença parece pouca, mas, em números absolutos, assusta: foram mais de 14 mil quilômetros quadrados devastados ao ano, num total de 85 mil quilômetros quadrados entre 2002 e 2008 – área semelhante ao território de dois estados do porte do Rio de Janeiro.



Um dos principais vilões é o agronegócio. A madeira, claro, vira carvão. O coordenador de ciências da organização The Nature Conservancy (TNC), Leandro Baumgarten, ressalta que o cerrado foi considerado, durante muito tempo, uma região improdutiva e, por isso, não sofreu muitas alterações até a década de 1980, quando foram desenvolvidas tecnologias para plantio em larga escala. “A partir de então, o cerrado foi impactado numa velocidade vertiginosa e, hoje, tem um pouco menos de 60% de sua área convertida (em área de plantação). Infelizmente, esse processo não foi acompanhado e as primeiras avaliações de cobertura vegetal foram feitas apenas depois de 2000”, afirma.



Para ele, outra questão contribui para a expansão do desflorestamento: “Os governos estaduais e federal evitam falar de conservação de cerrado para não entrar em conflito com setores produtivos e deixar em aberto a possibilidade de expandir a fronteira agrícola ainda mais sobre o bioma”. Baumgarten destaca que a questão principal é a falta de planejamento e ordenamento territorial na região. “Se isso fosse feito, haveria a possibilidade de aumentar a produção de forma sustentável e planejar de fato a conservação do bioma. Se a situação continuar como está, o cerrado ficará restrito às atuais áreas protegidas e áreas degradadas, abandonadas pela baixa aptidão agrícola”, diz.



O diretor do Departamento de Articulação de Ações da Amazônia do Ministério do Meio Ambiente, Mauro Pires, destaca os efeitos na valorização do bioma. “Quando falamos em desmatamento, dizemos ao mundo que cerrado é um bioma de menor importância, porque está sendo devastado a essa taxa. O desafio é mostrar que o bioma é de primeira importância. É considerado a principal savana dos grandes ecossistemas do mundo e tem diversidade diferente das savanas africanas, pois temos 14 a 15 tipos de ambientes, entre eles os florestais (como o cerradão e maciços florestais), campos rupestres e matas de galeria”, relata.



HIDROGRAFIA



A destruição causa perdas não somente de espécies animais e vegetais, mas também de recursos hídricos, com reflexo direto num dos principais cursos d’água do país. Na região hidrográfica do Rio São Francisco, foram destruídos 16.240 quilômetros quadrados entre 2002 e 2008, o que representa perda de 4,5% da área original. A devastação próxima ao Velho Chico só fica atrás dos danos na região hidrográfica do Rio Tocantins, que perdeu a mesma percentagem, mas uma área maior (26.934 quilômetros quadrados). “O problema ocorre, sobretudo, nas minas de água que formam o São Francisco, correm para formar o Rio Paraguai, no Sul do Brasil, e para compor a Bacia do Amazonas, com águas do Rio Araguaia-Tocantins. O cerrado é considerado o berço das águas, onde estão importantes nascentes”, ressalta Mauro Pires.



Minas Gerais figura ainda em outro triste ranking: o dos 60 municípios que respondem por um terço do desmatamento. A cidade de João Pinheiro, no Noroeste do estado, ocupa a 20ª posição no ranking (foram perdidos 484,56 quilômetros quadrados, ou 4,5% da área original) e Arinos, na mesma região, a 47ª (340 quilômetros quadrados de cerrado não existem mais, o correspondente a 6% do que havia inicialmente). A causa tem nome e sobrenome e se reflete em todo o território mineiro: expansão das fronteiras agrícolas e exploração para produzir carvão vegetal.



O diretor de monitoramento e fiscalização ambiental do Instituto Estadual de Florestas (IEF), João Paulo Sarmento, aponta o plantio de eucalipto como solução e aposta na vigência da Lei Estadual 18.365, por meio da qual o governo fez acordo com as empresas para elas se tornarem autossuficientes. “Temos de mudar muitos conceitos, de ocupação e desenvolvimento, buscar sustentabilidade, ver produtividade, mas não aumento de área. E é preciso ficar claro que supressão de vegetação não significa riqueza nem melhoria da qualidade de vida da população.” (Com Estado de Minas)

FONTE: VIA COMERCIAL

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