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REPORTAGEM FEITA NA PUC SOBRE TECNÓLOGOS EM COMÉRCIO EXTERIOR:


23/10/2008

Entender dos trâmites para importações e exportações exige conhecimento não só de procedimentos burocráticos. O profissional que trabalha na área de comércio exterior deve ter uma visão global da economia, entender de logística, de transportes e também da cultura dos povos envolvidos nas transações comerciais. É isso o que aprende o tecnólogo de comércio exterior.

O profissional formado tem amplas possibilidades de emprego, segundo o coordenador da graduação na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Roland Veras Saldanha Júnior. “É possível trabalhar em qualquer empresa que já atue no comércio internacional ou que pretenda atuar. Não existe mais hoje uma empresa que não tenha essa perspectiva”, diz.

Na empresa, o profissional pode prospectar mercados e definir planos de ação; negociar e executar operações legais, tributárias e cambiais para importações e exportações; controlar fluxos de embarque e desembarque de produtos; providenciar documentos; identificar os melhores meios de transporte para otimizar os custos.

E o conhecimento técnico é fundamental para a área, afirma Saldanha Júnior. “O Brasil está aumentando os fluxos de comércio internacional mais devagar do que o resto do mundo. O comércio internacional exige conhecimento diferenciado. Não é possível entrar ingênuo.”

Perfil

Para Saldanha Júnior, no perfil do estudante de comércio exterior deve estar o interesse por costumes de outros povos. “O aluno tem que ter vontade de estudar, de aprender línguas, de respeitar outras culturas, se interessar por elas”, diz.

Apesar de ter carga de matemática para a apreensão dos conhecimentos de economia, o curso não exige grande afinidade com disciplina, explica o professor. “Mas o estudante tem um semestre de fundamentos de matemática e não deixa de sair com base mínima de uso de computador, de interpretação de gráficos.”

Uma dica na hora de escolher a instituição de ensino é observar a qualificação do corpo docente e a disponibilidade de biblioteca e de laboratórios com softwares utilizados na área.

Cursos

No Brasil, segundo dados do Ministério da Educação (MEC), estão cadastrados 125 cursos de tecnologia de comércio exterior. O oferecimento deles depende da instituição de ensino.

A carga horária mínima é de 1.600 horas – o que equivale a dois anos de graduação. Este período pode ser ampliado, se a instituição de ensino considerar conveniente.

Brasil detém apenas 1,18% do comércio internacional

O Brasil é responsável por apenas 1,18% do comércio internacional, segundo afirma o professor Jovelino Pires, da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). Mas esse dado não é motivo para desânimo aos profissionais que pretendem se estabelecer na área: “Digo que temos mais de 98% do mercado para conquistarmos”, afirma Pires.

De acordo com o professor, o país tem possibilidades de oferecer trabalho, mas o setor ainda enfrenta dificuldades. “O Brasil tem dificuldades de lançar a pequena e média empresa no comércio internacional. Esse tipo de empreendimento é muito presente no comércio internacional da Alemanha, dos Estados Unidos, da Inglaterra”, afirma.

De fato, existem gargalos que, se não impedem o crescimento das exportações, ao menos funcionam como um belo obstáculo. Na pesquisa “Competitividade Brasileira nas Exportações”, elaborada pelo Centro de Excelência em Logística e Cadeias de Abastecimento (Gvcelog) da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (AESP) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), 257 empresas exportadoras deram sua opinião sobre as dificuldades no comércio internacional.

A principal delas foi o custo do transporte. Depois aparecem as tarifas de portos e aeroportos e os juros altos. Também são relatados entraves como a burocracia de documentação e as barreiras comerciais impostas por potenciais consumidores.

Mercado aquecido

Mesmo com a crise das economias, o setor de comércio exterior do país deve continuar como um potencial empregador. Segundo Saldanha Júnior, da PUC-SP, poucas empresas podem desprezar o comércio internacional no mundo de hoje.

Ele diz que o recém-formado no curso de tecnologia em comércio exterior recebe salários mensais que variam de R$ 2.500 a R$ 3 mil. Mas não é incomum o crescimento na carreira após anos de experiência e de domínio do mercado.

O curso, inclusive, tem um perfil de estudantes diferenciado. “Temos dois tipos de alunos. Uma parte um pouco mais velha, formada por quem não teve tempo de fazer a graduação. E tem também os jovens que saíram do ensino médio”, explica Saldanha Júnior. Assim, a graduação tem sido vista como possibilidade de ascensão profissional para quem já está no mercado de trabalho.

Entender o mundo é fundamental para quem faz comércio exterior

Depois de integrado no mercado profissional, Allan Robson Santos Silva, hoje com 37 anos, decidiu ingressar no curso de comércio exterior da PUC-SP. A conclusão de sua graduação está prevista para o fim do ano, mas ele já colheu frutos com os estudos.
Diretor geral das operações no Brasil de uma empresa responsável por 40% do mercado de acessórios para iPods, Allan Robson afirma que a graduação ajudou em seu crescimento profissional. Segundo ele, o mais importante no curso é “entender o mundo”. Leia a entrevista completa.

G1 - Como você decidiu fazer o curso?
Allan Robson Santos Silva - Trabalho há 12 anos no mercado de informática. Antes, atendia só o Brasil. Mas com a ascensão do Brasil no cenário internacional vi a perspectiva. Eu não tinha graduação e queria fazer um curso de curta duração, mas em uma universidade de renome. Foi então que a PUC abriu o curso de tecnologia de comércio exterior.

G1 – Para você, que já estava inserido no mercado profissional, o curso valeu a pena?
Santos Silva – Para quem está trabalhando, é sensacional, porque o curso traz informações do mercado. Tudo o que estudo, uso no trabalho.

G1 – Qual a sua função hoje?
Santos Silva – Hoje sou country manager de uma empresa de acessórios de informática. É uma empresa que tem quase 40% da participação mundial no mercado de acessórios para iPod. O country manager é responsável pela operação da empresa no Brasil. É como um diretor-geral.

G1 – Quais são as suas atividades na empresa?
Santos Silva – Eu faço desenvolvimento do mercado. Identifico oportunidades para a minha marca no país. Procuro parceiros comerciais, que são os distribuidores de informática, e vendo para eles. Então, eles fazem o pedido e aí começam os trâmites internacionais com toda a documentação.

G1 – O que se aprende no curso?
Santos Silva – Lidamos com questões bastante atuais, como o contexto internacional de variação de dólar ou a variação de câmbio. O aluno tem de ver trâmites aduaneiros de importação e de exportação. Mas o mais importante é entender o mundo. Por exemplo, aspectos culturais têm impacto no comércio internacional e também aprendemos isso.

G1 – Quais são as exigências do mercado para quem vai para a área de comércio exterior?
Santos Silva – O mercado exige pessoas com flexibilidade de pensamento. As mudanças no comércio internacional são muito rápidas e a adaptação precisa ser mais rápida ainda para que a empresa sofra menos. É fundamental ter uma boa formação e domínio de pelo menos mais um idioma além do português, o inglês. É necessário entender a língua comercialmente.

G1 – Se o estudante tiver interesse em aprender idiomas, o que ele deve estudar?
Santos Silva – Se o estudante já fala inglês, o segundo idioma seria o espanhol. Não dá para enrolar no ‘portunhol’. E o terceiro idioma seria o mandarim. Os chineses já falam inglês, mas vale aprender o básico para ser gentil, como cumprimento.

G1 – Como está o mercado profissional?
Santos Silva - A área está bombando. O Brasil, nos próximos anos, deve ser a bola da vez. Com o petróleo no pré-sal, o país vai ter que estar no mercado internacional.

G1 - Como são os salários da área?
Santos Silva – O recém-formado que trabalha como assistente de importação pode ganhar R$ 1.500. Se dominar inglês e for flexível, pode virar um coordenador logístico de comércio exterior, que ganha mais de R$ 6 mil. As trading companies demandam gente capacitada e o salário médio é de R$ 4 mil.

Fonte: G1.com.br

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